domingo, 27 de março de 2011

Anti-calafrio

Pela janela eu vejo a noite,
Posso sentir seus muitos cheiros e sons.
Há algo que se agita dentro das pessoas.

Essa noite me não cai bem hoje.
Ela pertence a um futuro longínquo
que ainda não vejo despontar.

É impossível prever os dias que nascerão a partir de agora.
É impensável uma luz mais forte do que a destes postes.
É como se a vida fosse seguir infinitamente nessa noite a dentro.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Antes do fim

A um gole do vício,
A um passo do precipício
eu me agarro aos teus cabelos para não cair.

A beira do colapso,
eu sumo, eu me disfarço.
Aos poucos eu me mato com o veneno que sobrou.

De tanto andar eu me canso
mas as tuas mãos eu não alcanço.
Se é pra ser assim, eu parto antes do fim.

(25/03/2011)

sábado, 12 de março de 2011

O que todas sabem do Mar

Todo afogado morre afogado em lágrimas,
nas suas próprias, nas minhas.
E nas lágrimas derramadas por tantas mulheres
Que em desgraça, em desamor, suas almas sucumbiram.

Quando uma sereia canta é em acalanto à suas irmãs,
e também soa um canto de vingança sobre os homens.
Estes pobres miseráveis em espírito, enlouquecidos,
Vem ter seu fim sob a espuma branca que foi seu sémen.

O céu que se estende sobre o Mar, suave e liso,
é o lençol que cobre o leito
onde o parto ancestral das ondas
nos presenteia com os frutos bastardos
de amores traídos.

À terra cabe apenas aceitar e estender seu colo
para receber tamanha fúria salgada.
E se acaso chegar um dia
em que o Mar for grande demais,
Não sobrarão homens vivos para ver nosso dilúvio.