sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Sorrateira

Se fugir fosse a solução
tudo seria felicidade desde que aprendi a andar.
Caminhar e fugir são o mesmo verbo pra mim.
Ando tanto, sem rumo, com qualquer sapato.
Já tentei bater corrida com minha sombra,
despistar as angústias, fazer a mente se perder.
Mas todos sabem o caminho de casa.

Agora eu ando bem devagar,
com os pés meio doídos de tropeçar.
Já conheço todas as trilhas e não olho mais o chão,
coloco meus olhos no mundo, nos outros.
Carrego o coração na mão e alguns beijos atrás da orelha.

domingo, 18 de setembro de 2011

E se não for nada?

Todo esse "e se" não leva a nada!
Temos ou não temos um ao outro.
É claro que não temos coisa nenhuma,
só desgosto, só desespero.
Andamos em círculos sobre velhos passos,
quando vamos pisar nosso próprio caminho?

Você quer pegadas, você quer espinhos,
eu, sozinha, vou seguindo.
Eu quero o mar, eu quero a lua,
eu quero andar nua!
Corremos tanto pra quê?
Veja, a verdade está bem aqui.
Não adianta, não me segure.
No seu mundo eu já morri.

sábado, 13 de agosto de 2011

Nenhum eu.

Meu banho quente não é pelo frio,
É para embaçar meu rosto no espelho.

Não há nenhum eu ali.
Não há o que refletir.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Catálogo

Tem amor que ensina,
que liberta.
Tem amor que salva.

Tem amor que nasce,
que transborda.
Tem amor que volta.

E tem amor como o meu
que sorri e que também chora.
E tem amor como o teu
que promete nunca ir embora.

Tem amor que destrambelha,
que desassocega.
Tem amor que desatina.

Tem amor que ascende,
que queima.
Tem amor que termina.

E tem amor como o meu,
que não principia nem acaba.
e tem amor como o teu,
que trás flores e perfuma a casa.

sábado, 4 de junho de 2011

14 minutos.

No todo não era forte,
Mas seus braços tesos ao sol
Faziam reluzir sua plumagem ruiva.
Pude sentir o calor que subia pelas suas costas
Quando, inquieto, tirou o pesado casaco.
No momento que cheguei e seus olhos me encontraram
Fui atraída para o seu lado quase inocente.
E quando lhe abandonei sem dizer nada
Seu olhar ainda me acompanhava incerto.

Ele tinha algo a dizer, algo pulsava dentro dele.
Mas não pôde e nem eu.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Meu pedido

Se pareço bonita aos teus olhos,
então consome minha beleza.
Mas em troca me dê algo que dure mais que uma noite,
mais do que uma promessa,
e que me deixe algum cheiro grudado na roupa.

(15/05/2011)

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Uns corpos

O que é o nosso corpo,
senão a beleza própria de cada corpo comum?
É o reflexo dos nossos mais profundos sentimentos.
A roupa da alma, adaptada para a vida que se quer levar.

É a maquina orgânica do mundo concreto,
que se torna tão abstrato
quando só resta o corpo e mais nada
num quarto a meia luz.

domingo, 15 de maio de 2011

Me dedusa: Esfinge? Medusa?

Eu sou um animal raro e absurdo
e ninguém nesse mundo pode me compreender.
Talvez nem eu mesma entenda essa minha contraditória natureza.
Tenho pés ou patas, cabeça, peito
e um olhar furioso que varre o caminho à minha frente.

Marcas de dentes, garras e pêlos são os rastros que deixo.
Homens brutos no meu encalço
são o preço por sobreviver ao aborto dessa terra.
Em qualquer noite sem lua você vai ouvir
um choro compulsivo que sai de entranhas e ecoa estridente.
Feche sua janela, apenas essa noite.

Ao amanhecer você não vai me ver,
nem sentirá meu cheiro agridoce pelos cantos.
Na luz do dia eu sou sombra,
no escuro eu sou o sangue no seu vinho,
no amor eu sou a morte.

(29/04/2011)

Chouriço

Um dia...é o suficiente para me ter e me perder de uma só vez.
Uma só facada bem dada faz o porco sangrar até a última gota secar.
Uma só moeda jogada na calçada dá um belo copo de cachaça.

Uma moeda, uma faca, um tapa na cara que me vem do nada.

Na mesa do bar eu pago pra te matar:
"Termine logo com isso, porco, de hoje não pode passar.
Escorra todo o sangue enquanto ele berrar."

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Insônia

Definitivamente estou só nesta cama.
Um único corpo firme e esticado envolto na roupa macia,
Uma silhueta formada pelo peso do cobertor.
Meu travesseiro virou pedra pela ansiedade
E uma coceira aqui e ali me desperta.

Sem o seu cabelo enrolado para me pinicar
não tenho mais motivos para enganar o sono.

(15/08/2010)

terça-feira, 19 de abril de 2011

Amor herege

Homem de Deus, largue essa taça e esse pão.
Coma as minhas horas vazias
que em longas tardes recheamos de prazer.

Homem santo, eu me reponsabilizo por nossos atos.
Vamos pecar e depois confessar ao pé do ouvido
que nessa cama nada merece perdão.

Meu bom homem, não tema o fogo nem o abismo,
Pois o melhor abrigo é sempre o calor
e não há perigo algum nas profundezas do um corpo.

Queimaremos todas as cruzes
e escreveremos em todos os livros
que a pior ofensa ao amor é acreditar no sacrifício.

domingo, 27 de março de 2011

Anti-calafrio

Pela janela eu vejo a noite,
Posso sentir seus muitos cheiros e sons.
Há algo que se agita dentro das pessoas.

Essa noite me não cai bem hoje.
Ela pertence a um futuro longínquo
que ainda não vejo despontar.

É impossível prever os dias que nascerão a partir de agora.
É impensável uma luz mais forte do que a destes postes.
É como se a vida fosse seguir infinitamente nessa noite a dentro.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Antes do fim

A um gole do vício,
A um passo do precipício
eu me agarro aos teus cabelos para não cair.

A beira do colapso,
eu sumo, eu me disfarço.
Aos poucos eu me mato com o veneno que sobrou.

De tanto andar eu me canso
mas as tuas mãos eu não alcanço.
Se é pra ser assim, eu parto antes do fim.

(25/03/2011)

sábado, 12 de março de 2011

O que todas sabem do Mar

Todo afogado morre afogado em lágrimas,
nas suas próprias, nas minhas.
E nas lágrimas derramadas por tantas mulheres
Que em desgraça, em desamor, suas almas sucumbiram.

Quando uma sereia canta é em acalanto à suas irmãs,
e também soa um canto de vingança sobre os homens.
Estes pobres miseráveis em espírito, enlouquecidos,
Vem ter seu fim sob a espuma branca que foi seu sémen.

O céu que se estende sobre o Mar, suave e liso,
é o lençol que cobre o leito
onde o parto ancestral das ondas
nos presenteia com os frutos bastardos
de amores traídos.

À terra cabe apenas aceitar e estender seu colo
para receber tamanha fúria salgada.
E se acaso chegar um dia
em que o Mar for grande demais,
Não sobrarão homens vivos para ver nosso dilúvio.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Iceberg

Não gostaria de ser como um iceberg
Flutuando só, dentro das eras,
Derretendo pouco a pouco
Para se tornar parte do imenso mar gelado que o isola.

(2007)