sábado, 20 de novembro de 2010

Meu processo de criação

Carrego minha poética no bolso,
onde vai chacoalhando em pequenas pílulas.
Cada brisa, cada palavra trocada, cada sorriso de criança
é motivo para engolir uma e mais outra e outra.
Até que alcanço uma estasiante overdose
pela qual me debato em busca de papel e lápis.

(23/08/2010)

domingo, 14 de novembro de 2010

Método científico

Você foi categoricamente, analisado, classificado, catalogado,
dissecado, desmentido, desmascarado um segundo após nosso primeiro beijo.
No segundo beijo todos os meus conceitos já foram por água abaixo.
Em seguida, a cada supiro, a cada arrepio e gemido uma pista, um signo, um ascendente,
e um levantamento histórico das suas últimas transas.
Você me aperta, me alisa, me morde,
e num griro mudo de prazer eu caio em contradição e não entendo mais nada.
Ao final, seu sorriso cansado e suado explica tudo.
Agora que nos conhecemos, me diga, qual é mesmo o seu nome?

domingo, 7 de novembro de 2010

Bebê de colo

Tenha coragem, homem!
Me ame, me tenha antes que eu derreta.
Essa sua indecisão me mata.
Assuma sua meninez e deite no meu colo,
Eu posso te embalar essa noite e basta.
Amanhã é minha vez de choramingar e arranhar suas costas.
Esqueça a família e sua garotinha de plástico.
Prove da minha instabilidade ardente,
De noites em claro e manhãs de preguiça.
Lave minha louça suja que eu não conto nada pra ninguém.

Ex-suicida

Minha memória é do teu corpo.
Tua pele clara, lisa e fria.
Não lembro do teu rosto,
Mas do teu olhar negro e louco.
Teu sorriso social esconde uma fúria imensa.
Me esqueço da tua razão cega, sedenta de calor.
Queria te lavar de toda mágoa e equívoco
E te dar um choque com a verdade do mundo que vejo.
Te mostrar, com carinho, toda a dor alheia.
Mas desisti de ti.
Minha memória é do teu corpo
Inerte, morto.