sábado, 25 de dezembro de 2010

Uma sombra de asas

Estou de passagem por aqui
e hoje sei que não preciso de nenhum ninho,
me bastam as pedras do rio para pousar.
Entre um vôo e outro, uma refeição, um cochilo sob o sol.
Me agradam noites de vento, manhãs quentes e as chuvas repentinas.
Mas nada disso me pertence, só é possível contemplar e sentir.
Eu também não sou deste lugar, apenas aqui estive,
e aqui me sentiram e talvez se lembrem.
Comigo só tenho a vida,
e ela é tão cheia de mistérios
que prefiro ser muito simples para entende-la.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O eco da gruta

Dor, insônia, lágrimas.
Estou exausta, retalhada, em carne-viva.
Nas minhas costas há um mapa que eu não posso ver,
mas que mostra o caminho para um bom lugar.
Estou algemada, afogada em milhares de ânsias.
O peso do mundo caiu um dia sobre meu peito
que de tão oco não aguentou e cedeu.
Por mais que eu respire fundo,
não é de ar que se enche um peito.
Estou doída, seca, rouca,
a ponto de virar uma grande sábia.
Vou dizer aos outros para não serem como eu,
que continuem tolos, cegos, amando.

(16/11/2010)